sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Do Amor e do Vício

III

Fume para escapar de qualquer pensamento
Desses que nos invadem sempre fora de hora
E nos incomodam com cimento nos lírios
Fume para não dormir, fume para não pensar
Fume para não precisar saber onde pôr os braços
Ou como abrir a boca, ou como se aproximar
Da moça bonita ali na esquina
Fume para ser mesmo sem saber
Como se é

Se possível tenha grandes períodos de abstinência
Entre um cigarro e outro
A falta da fumaça sempre a torna mais bonita
Claro que a noção de grande período é relativa
A minha é semanas, meses
Se a tua for horas, minutos, segundos
Mal nenhum

Não brinque com o cigarro nos dedos
Não engasgue quando for tragar
Não esparrame a bituca ou queime alguém
Com as cinzas
Trata o cigarro como uma extensão da mão
Sua fumaça como oxigênio
Seus restos como os teus

Não tenha medo de reservar um tempo
Apenas para fumar
E quando esse tempo vier fume muito
Tanto quanto teu bolso e pulmões permitirem
Não compre carteiras com filtro
Não disfarce nem perfume teu cigarro
Ele não merece
Aceita a ardência e o amargo do fumo
Como reflexo da ardência e do amargo
Da alma. Se não pode fazer isso
Não fume

Evita fumar perto de quem não aprecia
Ou em lugares onde não é desejado
A depreciação do cigarro
Tira todo o prazer do fumo
Agora, caso deseje fumar como protesto
Estufa o peito e, olhos nos olhos
Sopra a fumaça na cara do vilão
Sem deixar dúvida que é de propósito
Depois apaga e vai embora
A última baforada é sempre sinal de vitória

Pratica coisas divertidas com o cigarro
Como fazer rosquinhas de fumaça
Ou falar com ele entre os dentes
São tão úteis socialmente
Quanto é possível ser útil uma coisa inútil
E se possível não fume antes nem depois de amar
Mas se não houver jeito, ama com maior
Intensidade que a cinza queima, mostra
Teu fogo maior que qualquer fumaça

2 comentários:

Anônimo disse...

Preocupo-me com a saúde deste poeta. Lindas palavras poéticas quando não são aplicadas na praxis.
Prefiro acreditar que um belo sentimento pode ser complartilhado sem vícios mortais.

Clarissa Santos disse...

Com vícios mortais fica mais escitante, suponho. (ou não)
:P


beijos *:

p.s.: eu quero te matar, isso tá insuportavelmente bom!