segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Do Amor e Do Amor

V

Envolve tudo
Que é amor
Te peço
Te suplico
Desarmado
Desvario
Alquebrado
Pendurado
Pelo fio
Da esperança
Se capaz for
Amar
Meu amor
Me ama

Do Amor e Do Amor

IV

Quando estiver pleno
Na prática e exercício de teu amor
As forças líricas revelar-se-ão
Com ruídos surdos
E luzes cegantes
Como a crença que faz de moinhos
Demônios
Ou de estátuas de gesso
Santos
Revelar-se-á sem qualquer estrondo
Sem grande euforia
Como se houvesse sempre estado ao teu lado
O teu amor - Esperando

Como o Deus dos Judeus
Revelou-se para seu anjo
Na amplitude de ser todo e ser amor
Aprende dessa lição e não teme
Nem pretende usar o amor como ferramenta
Não usa teu amor para moldar, formar
Não aponte, não impeça, não exiga
O amor
De uma forma que não se compreende
- Transforma

Transforma além de qualquer propósito
Ignora completamente a voz da razão
Fria, suja, cheia e infestada
De preconceito
Transforma sem fôrma
Dirigi sem rota, redoma
Sem domo, ordena sem ordem
Envolve no caos, causa
Casos, desarruma
A cama e a vida
Nos fere, maltrata e seduz
É como um estrela cadente
Que passa na vida da gente
Nos enche de força de luz

Portanto ama, não ignora teu amor
Quaisquer forem as circunstâncias
E divide, e amplia, e espalha, e semeia
Quando sentir amor ignorado em seu interior
Vaza
Amar é sentir e sentir é para fora
Não guarda teus sentimentos
Não tem medo das conseqüências
Do que você pode sentir

Pois a única conseqüência de sentir
É o imenso, aterrorizante risco
De sentir
E continuar sentindo depois
E continuar sentindo depois
Até não mais quando, até
Não saber mais onde, até
Não ter mais porque
E sem razão, sem motivo, sem referência
E sentindo tudo e tanto e quanto
Não saber mais nada

Com o estouro do amor corra
Tão rápido quanto possível
Rápido suficiente para ver a cousa amada
E sua ignorância travestida
De qualquer coisa
Longe de você mesmo, principalmente
Depois volta, mas volta e enfrenta,
Volta e transforma, volta e reparte
Até o amor ser tudo
Cousa amada e cousa ignorada
Parte da mesma substância

Do Amor e do Amor

III

Além de tijolos doirados deixa o amor ser
Teu mágico gato, pégaso alado
Leão sem passo, espantalho sem espanto
Armadura em frangalhos
Teus demônios, tuas bruxas e
Todas as outras personagens da insana busca
Do outrem
Encanta-as com amor e enche qualquer pessoa
Do encanto que vaza
Na tua companhia, qualquer um
Dos santos aos canibais
Encantado de amor, pode não ser
Adorável, mas em absoluto pode ser
Amado

Entenda que quem se ama
E quanto se ama quem
Não é uma questão de escolha
Mas de exercício
Ao acostumar-se a amar por amar
Sem qualquer outra necessidade
Como um dependente precisa do vício
Ou um pai precisa do filho
Como é impossível ser feliz sozinho
O hábito do amor, que se veste, que se amarra
É para todos, qualquer um, lugar, hora
Principalmente o amor guardado
Existe apenas pelo momento
De ser entregue aos pássaros

Ama o imenso tempo presente
Das pessoas presentes, apenas o presente
Que é instantâneo e é vazio
E prepara todos para o futuro
E para além - para o próximo
Agora - ao teu alcance
Portanto prática teu amor
E assim expande o enlace
Até abarcar o mundo
Ou até mais, ou até mais
Ou até

Do Amor e do Amor

II

Que o amor guie teus dedos pelas velas
No momento de acendê-las
E no momento de apagá-las
Que os guie pelas peles que tocar, cada toque
Se dado pela firme intenção do amor
Trará ao tato calores frios
E ásperos macios - possíveis, presentes
Transgressores à pele
Repletos de sentimento

Para que teus dedos passem desenhos, pincéis, agulhas e
Principalmente todos os outros dedos a que os teus
Se prestarem a enlaçar
Que o amor faça dos vãos preenchidos duns dedos
Por outros vãos doutros dedos
O melhor exemplo do quanto
Se ocupa e completa
A ausência, o abandono, a generosidade
Do ser amoroso
No vazio duns dedos enlaçados

Deixa o amor guiar tuas pernas pelas ruas
Pelas estradas, pelas escadas, pelos tapetes
Ou pela areia das praias, pelos portais
Que teu amor seja teus tijolos amarelos
Tuas placas de sinalização, não para que ele
Te aponte um caminho correto, mas
Que o amor te aponte um caminho sem rumo
Donde quem chegou ao fim jamais voltou
E você sequer sabe se nesse insano caminho
Há amor

Mas que principalmente
O teu amor guie tuas pernas
Entre as tantas outras pernas
Por onde tuas pernas passarão
Para que nesse enlace
Misterioso de duas pernas
O amor, esse velho marinheiro
Seja a vela arrastada pelo vento
Sem rumo
O leme balançando à esmo
Sem prumo
E na corda atada das pernas
O nó

Do Amor e do Amor

I

Ama, imensamente ama
Tudo, todos, qualquer coisa
Ama não pela cousa amada
Nem pelo ser amador
Ama não pelas almas penadas
Nem pelos cravos do chão
Nem pelos louros, nem pelos figos
Ama pela necessidade de amar
Não importando o quê, como ou quanto
Simples, despido, vulnerável
Amor

Que o amor seja teu Deus único
Que a liturgia lida sejam palavras
De amor
Que no ato de contrição, constringe pela falta
De amor
Que na súplica seja ânsia, seja gula
De amor
Que o pão que se divide e o vinho ingerido
A paz a ser oferta e o dízimo sofrido
Que a dispensa dos ouvintes e a saudade
Sejam amor, amor amor

Não teme a palavra, não teme
Os sentimentos que junto dela chegarão
Repete, gasta, usa até aprender
Gasta até ser teu
Repete até sentir
Escondido na palavra amor
O amor deveras
Entrega tua vida completamente
Deixa ser tua necessidade mais profunda
Tua bússola, teu norte. Que o amor
Decida tuas asas, teus olhos, teu peito
Teu ser