segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Do Amor e do Amor

II

Que o amor guie teus dedos pelas velas
No momento de acendê-las
E no momento de apagá-las
Que os guie pelas peles que tocar, cada toque
Se dado pela firme intenção do amor
Trará ao tato calores frios
E ásperos macios - possíveis, presentes
Transgressores à pele
Repletos de sentimento

Para que teus dedos passem desenhos, pincéis, agulhas e
Principalmente todos os outros dedos a que os teus
Se prestarem a enlaçar
Que o amor faça dos vãos preenchidos duns dedos
Por outros vãos doutros dedos
O melhor exemplo do quanto
Se ocupa e completa
A ausência, o abandono, a generosidade
Do ser amoroso
No vazio duns dedos enlaçados

Deixa o amor guiar tuas pernas pelas ruas
Pelas estradas, pelas escadas, pelos tapetes
Ou pela areia das praias, pelos portais
Que teu amor seja teus tijolos amarelos
Tuas placas de sinalização, não para que ele
Te aponte um caminho correto, mas
Que o amor te aponte um caminho sem rumo
Donde quem chegou ao fim jamais voltou
E você sequer sabe se nesse insano caminho
Há amor

Mas que principalmente
O teu amor guie tuas pernas
Entre as tantas outras pernas
Por onde tuas pernas passarão
Para que nesse enlace
Misterioso de duas pernas
O amor, esse velho marinheiro
Seja a vela arrastada pelo vento
Sem rumo
O leme balançando à esmo
Sem prumo
E na corda atada das pernas
O nó

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