segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Do Amor e Do Amor

V

Envolve tudo
Que é amor
Te peço
Te suplico
Desarmado
Desvario
Alquebrado
Pendurado
Pelo fio
Da esperança
Se capaz for
Amar
Meu amor
Me ama

Do Amor e Do Amor

IV

Quando estiver pleno
Na prática e exercício de teu amor
As forças líricas revelar-se-ão
Com ruídos surdos
E luzes cegantes
Como a crença que faz de moinhos
Demônios
Ou de estátuas de gesso
Santos
Revelar-se-á sem qualquer estrondo
Sem grande euforia
Como se houvesse sempre estado ao teu lado
O teu amor - Esperando

Como o Deus dos Judeus
Revelou-se para seu anjo
Na amplitude de ser todo e ser amor
Aprende dessa lição e não teme
Nem pretende usar o amor como ferramenta
Não usa teu amor para moldar, formar
Não aponte, não impeça, não exiga
O amor
De uma forma que não se compreende
- Transforma

Transforma além de qualquer propósito
Ignora completamente a voz da razão
Fria, suja, cheia e infestada
De preconceito
Transforma sem fôrma
Dirigi sem rota, redoma
Sem domo, ordena sem ordem
Envolve no caos, causa
Casos, desarruma
A cama e a vida
Nos fere, maltrata e seduz
É como um estrela cadente
Que passa na vida da gente
Nos enche de força de luz

Portanto ama, não ignora teu amor
Quaisquer forem as circunstâncias
E divide, e amplia, e espalha, e semeia
Quando sentir amor ignorado em seu interior
Vaza
Amar é sentir e sentir é para fora
Não guarda teus sentimentos
Não tem medo das conseqüências
Do que você pode sentir

Pois a única conseqüência de sentir
É o imenso, aterrorizante risco
De sentir
E continuar sentindo depois
E continuar sentindo depois
Até não mais quando, até
Não saber mais onde, até
Não ter mais porque
E sem razão, sem motivo, sem referência
E sentindo tudo e tanto e quanto
Não saber mais nada

Com o estouro do amor corra
Tão rápido quanto possível
Rápido suficiente para ver a cousa amada
E sua ignorância travestida
De qualquer coisa
Longe de você mesmo, principalmente
Depois volta, mas volta e enfrenta,
Volta e transforma, volta e reparte
Até o amor ser tudo
Cousa amada e cousa ignorada
Parte da mesma substância

Do Amor e do Amor

III

Além de tijolos doirados deixa o amor ser
Teu mágico gato, pégaso alado
Leão sem passo, espantalho sem espanto
Armadura em frangalhos
Teus demônios, tuas bruxas e
Todas as outras personagens da insana busca
Do outrem
Encanta-as com amor e enche qualquer pessoa
Do encanto que vaza
Na tua companhia, qualquer um
Dos santos aos canibais
Encantado de amor, pode não ser
Adorável, mas em absoluto pode ser
Amado

Entenda que quem se ama
E quanto se ama quem
Não é uma questão de escolha
Mas de exercício
Ao acostumar-se a amar por amar
Sem qualquer outra necessidade
Como um dependente precisa do vício
Ou um pai precisa do filho
Como é impossível ser feliz sozinho
O hábito do amor, que se veste, que se amarra
É para todos, qualquer um, lugar, hora
Principalmente o amor guardado
Existe apenas pelo momento
De ser entregue aos pássaros

Ama o imenso tempo presente
Das pessoas presentes, apenas o presente
Que é instantâneo e é vazio
E prepara todos para o futuro
E para além - para o próximo
Agora - ao teu alcance
Portanto prática teu amor
E assim expande o enlace
Até abarcar o mundo
Ou até mais, ou até mais
Ou até

Do Amor e do Amor

II

Que o amor guie teus dedos pelas velas
No momento de acendê-las
E no momento de apagá-las
Que os guie pelas peles que tocar, cada toque
Se dado pela firme intenção do amor
Trará ao tato calores frios
E ásperos macios - possíveis, presentes
Transgressores à pele
Repletos de sentimento

Para que teus dedos passem desenhos, pincéis, agulhas e
Principalmente todos os outros dedos a que os teus
Se prestarem a enlaçar
Que o amor faça dos vãos preenchidos duns dedos
Por outros vãos doutros dedos
O melhor exemplo do quanto
Se ocupa e completa
A ausência, o abandono, a generosidade
Do ser amoroso
No vazio duns dedos enlaçados

Deixa o amor guiar tuas pernas pelas ruas
Pelas estradas, pelas escadas, pelos tapetes
Ou pela areia das praias, pelos portais
Que teu amor seja teus tijolos amarelos
Tuas placas de sinalização, não para que ele
Te aponte um caminho correto, mas
Que o amor te aponte um caminho sem rumo
Donde quem chegou ao fim jamais voltou
E você sequer sabe se nesse insano caminho
Há amor

Mas que principalmente
O teu amor guie tuas pernas
Entre as tantas outras pernas
Por onde tuas pernas passarão
Para que nesse enlace
Misterioso de duas pernas
O amor, esse velho marinheiro
Seja a vela arrastada pelo vento
Sem rumo
O leme balançando à esmo
Sem prumo
E na corda atada das pernas
O nó

Do Amor e do Amor

I

Ama, imensamente ama
Tudo, todos, qualquer coisa
Ama não pela cousa amada
Nem pelo ser amador
Ama não pelas almas penadas
Nem pelos cravos do chão
Nem pelos louros, nem pelos figos
Ama pela necessidade de amar
Não importando o quê, como ou quanto
Simples, despido, vulnerável
Amor

Que o amor seja teu Deus único
Que a liturgia lida sejam palavras
De amor
Que no ato de contrição, constringe pela falta
De amor
Que na súplica seja ânsia, seja gula
De amor
Que o pão que se divide e o vinho ingerido
A paz a ser oferta e o dízimo sofrido
Que a dispensa dos ouvintes e a saudade
Sejam amor, amor amor

Não teme a palavra, não teme
Os sentimentos que junto dela chegarão
Repete, gasta, usa até aprender
Gasta até ser teu
Repete até sentir
Escondido na palavra amor
O amor deveras
Entrega tua vida completamente
Deixa ser tua necessidade mais profunda
Tua bússola, teu norte. Que o amor
Decida tuas asas, teus olhos, teu peito
Teu ser

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Entrecantos

Neste espaço entrecantos, venho aqui orar

Senhor Meu Deus, vim ao mundo com o propósito de amar
Senhor Meu Deus - como temo, que medroso, que descuidado sou
Nesse propósito de amar!

E que frio gostoso, e medo/amor invencível
Impressionante embrulha meu estômago
E contorce meu semblante
Em risos, muitos, milhares
Gritantes. Que frio gostoso
A possibilidade de amar muito
E amar com o gozo

Livre e pleno de seu amor, Meu Deus
Tu que és todo amor, Tu que és meu Mestre
Se de teu exemplo tiro as forças para andar por entre espinhos
E romper em meio aos medos
E mesmo só não ser sozinho

Senhor, me encontro à beira do penhasco
Imensurável abismo
E único som possível é o salto
A queda imensa, assustadora descida
Ao amor que está embaixo, que é a quebra
O corte e o impacto. A amor que está
Que veio e que é
Barro

Senhor a queda, imensa
Será mais amor que jamais provei
Será desvario além das medidas
Além das lições dos homens
E da disciplina das formigas
Além do alimento das árvores
E dos namoros de amiga
Será amor pra se viver, amor pra se chorar
Amor pra se morrer, saravá!

Queria eu que tu me empurrasses, queria que tua mão
Fosse sólida e não amor, queria ir contra a vontade
Queria desculpas para arrepender-me
Queria lamentos para mais tarde
Queria poder conformar-me
E ser falso, e ser hipócrita
Como me convém a carne
Queria crer que posso fechar a porta

Mas tu puxas, tu permaneces
Envolta, manto soturno, Meu Deus
Me vela, me olha e me toca
Mas jamais da ladeira me joga

Apenas vê, amoroso espera, e ora
E na tua oração respiro fundo
Enxergo o vento, escuto o horizonte
Sinto nos pés a palpitação de vida
De cada instante
E mesmo certo que vou sofrer
E mesmo certo que vou chorar
Eu no caos, me convenço, que se não assim
Não vou viver, se não assim
Não vou amar

Licença aos que me lêem
Eu vou pular

domingo, 9 de novembro de 2008

pronto

em dezembro, o último canto, e tenho dito e pronto

Do amor e da Poesia

IV

Não se angustia pela poesia que não vira verso
Ama com intensidade e tudo que advir do teu amor
Será poesia
Parte será repartida do teu desengano para o papel
Parte para teus dedos, parte para teus olhos
Pedaços serão beijos mais poéticos que palavras
Nunca foram. Pedaços serão palavras
Que se perderão no vento
Não disputa tua poesia com o vento
Entende que ele engole
O efêmero, e deixa as ruínas de
Teus poemas para a eternidade

Não tenha vergonha
Da poesia do momento presente
Seja ela poesia de cozinha ou seja
Ela poesia de banheiro
Se não gozar da poesia de cada momento
Por completo
Jamais será capaz de dividi-la
Com o papel. Assim
Jamais poderá dividir
A poesia de teu momento presente
Com o mundo

Não faça versos por vaidade
Se tens vaidade e deseja
A acolhida pública
Escreve novelas, escreve quadrinhos
Não humilhe a poesia à tua necessidade
De aprovação
Não mostre teus versos, não comente
Mantêm eles quietos, submersos
Até o momento preciso
De presenteá-los àqueles que -
Você sabe - esperam ser tocados
Pelo vazio

Mata tua poesia antes de publicá-la
Mata todo o presente e deixa no verso
A possibilidade estática, fria
Para que o calor do presente do próximo
Possa aquecer teu poema
E ele se torne novo
Pelas mãos onde passar


Amém

Do amor e da Poesia

III

Sê tão sincero quanto pode quando escrever
Não importa se mentes ou para quem mentes
Quando escrever, não escreva por ninguém
Nem por si, assim não há a quem mentir
Não se prova nada num poema, não está lá
A resposta das coisas ou a revelação do mistério
No poema não se apontam caminhos
Ou se ensinam ofícios, o poema
Raramente é entendido por quem lê
Da forma como foi concebido por quem fez
Assim, ele pode ser integro e franco
Principalmente, você não terá que se enganar

Não importa quantas moças pensam ser únicas
Ou quantos sabem feitos que você não fez
Não faz diferença com quantas transou
Ou quanto fumou, ou quanto bebeu, ou
Por onde andou
Para teus versos
Importa apenas que seja sincero
Que os veja sem preconceitos, sem máscaras
Que não tenha nada em mente ao recebê-los
Para poder sentir o que dizem em essência
Ao escrever teus poemas
Não teme

Entrega teu ser a teus versos
Como quem se entrega nos braços da mulher amada
No mais completo desvario
Na mais completa ausência
Pela mais pura necessidade
E assim como não presta doar-se à mulher amada
Se não for por completo
Não corra para sua poesia para ser consolado
Não corra para sua poesia chorar lágrimas
Ou em busca de qualquer prazer
Doa-se a tua poesia por estar completo
Inteiro e pronto para ela

Do amor e da Poesia

II

Prefere escrever teus rascunhos a caneta que a lápis
Os rascunhos tem algo de verdadeiro
Que é preferível fixar na tinta
O mais importante de todo rascunho
É sua honestidade, sua vida pulsante
Seu imenso contato com o presente
É melhor fixar tanto quanto possível
O sentimento presente do rascunho

Com o tempo e as revisões
O rascunho será abominavelmente
Desfigurado pela estética
Semiótica, métrica e outros tantos
Nomes complicados
Assim como a semente que jamais lembra o fruto
Entretanto procura manter no resultado
A imensa força vital contida na semente
Ou ao olhar teus poemas
Verá velhos aduncos e rabugentos

Se quiser, sempre lamenta
Quando terminar uma revisão
E compara o poema
Nascido com o crescido
Repara, triste e austero
O quanto é preciso matá-lo
Antes de espalhar seus versos
Ao vento

Quando pegar um poema antigo para lê-lo
E souber que ele necessita de revisão
Mas sentir-se incapaz de esfaquear mais
O rosto que outrora era tão belo
Ou remodelar novamente seu corpo
Que anda tão duro
E era tão flexível
Entrega a um amigo ou a um editor
Que teu poema está pronto

E pronto nada mais é
Que estar morto

Nota

Peço perdão pela demora nas postagens, culpa minha

Do amor e da poesia

I

Não faça versos
Não sente em frente ao computador
Ou à mesa de trabalho
Encarando a tela vazia ou o papel em branco
Esperando versos
Eles não virão. Nunca
Versos não vem
Versos não vão
Versos são pedaços estáticos de tempo
Esquecidos no papel

Não pense no assunto de tua poesia
Não tente falar de flores
Não conta tuas aventuras amorosas
Não grita ao mundo teu desengano
Não descreve paisagem ou sentimento no poema
Não descreve, não escreve
Não rima, não versa, não lírico

Esqueça completamente da tua poesia
Para encontrá-la
Ora, peça, invoca, clama, chama, implora e
Espera

Paciente
Com
A
Cadência
Do
Mundo

Mostra-se disposto ao oferto pelo futuro
E não ao imposto pelo passado
E receberá o poema como
Jesus recebeu as chagas
Judas o seu destino
O mar vermelho os judeus
E a mãe concebe o filho
Após, basta guardá-lo consigo
Até estarem ambos suficiente
Mortos
Você para escrevê-lo
Ele para o suicídio

Erra por qualquer caminho. Mas não
Erra procurando o poema
Simplesmente erra pelo vento
Pela esquina, pelas casas antigas
Pela areia da praia, as praças do norte
Os mares do sul e tente sempre
Sempre
Errar por um beco
O motivo: não sei
Tenha fé

Fé em Deus, nos homens e no tempo
Sobretudo no tempo presente
Como me ensinaram Carlos e Fernando
Presta atenção em tudo
Na vida da mata e na morte do asfalto
Na sombra das árvores
No obscuro dos prédios
Na amplidão do mar
No cheiro do sal
No profundo do mangue

Observa
As cores das moças e rasgos dos jeans
Os bonés dos rapazes e fones de ouvido
Os bigodes dos cobradores de ônibus
Os vagabundos do Cais de Santa Rita
As Putas da Conselheiro
Os Travestis da Conde da Boa Vista
Os jovens no Bairro do Recife à noite
Ou nas praias de Boa Viagem à tarde
Ou no parque das Jaqueiras domingo

Mas sempre que sair
Não saia para encontrar nada disso
Saia para não saber, saia para ser incerto
Saia como a rede exposta
Que pega o que paira no ar
E não como a armadilha que espera a presa
Não tenha presa, não tenha pressa
Esquece completamente para quê saiu
Você saiu por sair

Ao voltar tome um banho
Longo - quente para relaxar
E depois frio para não dormir
E no caminho do banho lava a alma
E pensa em tudo que viu, em tudo
Que não sabia enxergar
E enxergou em meio ao vazio
À falta de preconceito, de procura, de resposta

Agora, se após o banho
Por acaso sentir uma vontade
Insaciável de repartir o vazio de si
Se um impulso incontrolável
De fazer não sei quê te assaltar
Não tem medo. Vá para a tela branca
Ou o papel vazio. Pega a caneta
Ou põe os dedos sobre o teclado
E observa
Lá estará um poema te esperando

Do Amor e da Mulher Amada

IV

Seja completo quando estiver com sua amada
Dê a ela toda a atenção que possui
Só ouça terceiros se ela calar
Só olhe pro lado se ele for indicado
E absorva na mais completa ausência
Cada gesto e cada olhar da mulher amada
Pois prova de amor maior
Que atender às palavras de uma mulher
É atender a seus sentimentos

Quando ela o quiser, mas não para o amor
Manda que ela procure um amigo
Diz, olhos nos olhos dela
Que não seria capaz de ouvi-la sem desejá-la
Que não poderia confortá-la senão com beijos
Que não saberia abraçá-la sem libido
Convence-a e a abandone para o bar
Mais próximo. Tome muito, mais do que pode
E volte correndo bêbado contá-la
Que se arrepende e que morre pelo som de sua voz

Isso é útil porque bêbado
Ela será complacente e você pouco ouvirá
E do que ouvir talvez não lembre
Se deus quiser

Mas quando amá-la derruba qualquer máscara
E não ofende nem elogia, aceita a mulher
Na mais abandonada necessidade
Mostra que não ama seu corpo
Tampouco ama sua voz, ou seus beijos
Deixa claro sua devoção à sua simples
Substância
Como quem seria capaz de amá-la
Fosse ela quem fosse
Posto que fosse ela

Quando amar que seja repleto de unha
E repleto de dente, que teu amor
Não envolva, mas rasgue
Não conforte, mas doa
Que seu calor queime
Que seus beijos sangrem
Que ame sem saber como
Sem pensar onde
Não procure qualquer prazer
Não dê sinais de cansaço
Ame como se fosse morrer se não amasse

E assim que terminar
Não saia até que ela respire novamente
Não durma até niná-la
E não se vista até passar da hora
Não tenha qualquer pudor
Com o corpo da mulher amada
Nem antes, nem durante nem depois
Trata-o como uma extensão do seu
E doe o seu como quem não precisa
Dele mais. Nunca mais

Ai meu coração, ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Do amor e da Mulher Amada

III

Tem cuidado com o dinheiro
Se possível corta-o
De qualquer comunicação que tiverem
Sê com ela da forma como é sempre
Se quiser oferecer-se para pagar
Não aceita não por resposta
Se não tem diz logo e sem desculpas
E se ela oferecer-se a pagar
Decide, mas decide com cautela
Jamais pede
E se ela pedir que você pague o dela
Em qualquer ocasião
Vire as costas, vá embora e não retorne
Até que ela, humilde, se redima

Jamais a amarre, ou solicite sua presença
Entenda claramente que assim como você
Vai a ela sempre que a deseja
Ela virá a você da mesma forma
Não a impeça de ter outros, mas morra de ciúmes
Se acaso a vir tocar ou acariciar outro homem
Com essa ou aquela intenção
Que você julgava ser tua
Não tem medo de lutar pela mulher amada
Mas evita disputá-la em jogos
Lutar por um amor é diferente de apostá-lo

Não importa se ganha ou se perde
O que interessa é o extremo a que se presta o seu amor
E se ela partir de não der volta
Ou se você, por qualquer motivo
Ver-se obrigado a ausência
Não exige submissão ou fidelidade
Deixa-a livre para que quando voltares
Ela tenha descoberto pela experiência
Que não existe amor maior que o teu
E se assim não suceder no reencontro
Azar

Não importa quanto a ame
Ou quão apaixonado esteja
Jamais se declare, nunca
A deixe saber que você existe
Única e exclusivamente pra ela
Ou que ela é dona de seus sonhos
Ou que manda em seus pensamentos
Todas essas verdades serão muito úteis
Para conquistá-la de volta
Caso ela te deixe. Não as gaste
Enquanto a tem

Agora sim, quando ela o deixar
Rasteje sob seus pés, lamba seu sobejo
Declare tudo que jamais a deixou saber
Misture frases de filmes, refrões de músicas
Mas dê ênfase às suas próprias palavras
O faça em particular e em público
Se em particular baixinho, no ouvido
Se em público nos brados mais longos
O faça quantas vezes for necessário
Até convencê-la que a ama

Ah, por que você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado

Do amor e da Mulher Amada

II

Encontre para ela um adjetivo novo
Sempre que a encontrar
O teor do adjetivo pouco importa
Pode ser gorda, feia, velha, usada
O que importa mesmo
É que todo dia você a ache nova
Diferente do que era antes
Para que ela sinta-se descoberta
Toda vez que te encontrar
Como uma pérola escondida na concha

Ainda que eu preze pela sinceridade
Aconselho prudentemente a intercalar
Os adjetivos sinceros com alguns pomposos
Linda, radiante, encantadora, divertida
Mesmo que não seja sempre honesto
Procure algo que você possa dizer
Com alguma dignidade. Ganham ambos
Você que a mantêm consigo
E ela que a mantêm contigo

Incomode, importune, atormente
Faça-se presente nos piores momentos
Apareça principalmente
Quando não é convidado
E falte ou atrase quando ela o espera
Isso te fará marcante, detestado, a encherá
De emoções fortes e arrebatadoras por você
Assim, logo após

Desculpe-se, redima-se, humilhe-se
Se necessário
Até que ela acredite que nada que você
Fez foi feito por mal, mas sim
Pela mais visceral necessidade dela
A atenção dela, a presença dela
A companhia dela, o tempo dela
Ela toda

Sê sincero, tudo que não gosta nela
Diga sem qualquer receio
Xingue se necessário, seja grosso
Dê cenas no meio da rua, fale alto
Embarace, humilhe, mas não minta
Os olhos de um apaixonado
Perdem todo brilho na mentira

E do que gostar não poupe elogios
Mas também não exagere
Ou parecerá falso
Espera o momento e a hora perfeita do elogio
Às vezes é na frente de muitos
Às vezes é longe de todos
Às vezes basta um suspiro
Ou até mesmo um olhar

Agora se possível intercala ambas
A sinceridade agradável da desagradável
Se exagerar na primeira ela saberá
A solidez de teus sentimentos
E não é prudente dar a qualquer mulher
Tal segurança. Se exagerar na segunda
Corre o risco de perdê-la

A insensatez, que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor, o seu amor
Um amor tão delicado

Explicação

Primeiro me desculpem pela demora em postar os demais textos, muito acontecendo fora do computador, depois, com calma, ponho tudo dentro.

A carta foi escrita direto para o blog sem qualquer revisão e não faz parte do trabalho dos conselhos, embore eu acredite que possa perfeitamente dialogar com o mesmo.

Por uma questão de calendário, já que este blog pretende acabar junto ao ano, postarei dois poemas consecutivos, espero que gostem.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Carta ao Moribundo

Falecido,

Ouvi há pouco uma cantora dizer que tu vieste ao mundo para dar a esse uma lição de amor. E como precisamos dela hoje meu caro poeta. Tu morreste aos meus quatro anos de idade, se bem me recordo, e nesta época nada sabia eu de sua existência. Talvez eu tenha ouvido alguma música, é bem possível e espero que alegre teus santos saber que ela é pra ficar. Mas recordar não recordo.
Não conheci tua figura de homem, apenas tua figura de lenda; mas ouvi tua mensagem, e a ouço novamente tantas vezes quanto posso. Graças à Deus posso muito.
É, o mundo que vejo precisa demais duma lição de amor. E não pode ser pequena, tem que ser bem dada, tem que ser com sofrimento, como você sabia ensinar e ainda ensina em teus versos, em tuas músicas. As palavras que te dedico são digitadas, não sei se tu chegasse a fazer isso. É parecido com uma máquina de escrever, mas é bem mais fácil corrigir os erros. E eis aí o primeiro erro. O hábito de atropelar e esconder ou simplesmente deletar (uma palavra nova, significa apagar sem deixar qualquer rastro). Novamente, o hábito de atropelar e esconder ou simplesmente apagar os erros cresce a cada dia. Uma mania feia de felicidade perfeita, felicidade ideal. Estamos próximos do que a crê ser perfeição, e tem-se buscado isso com muito afinco. Pessoas ideais, amores ideais, sentimentos ideais. Você conheceu a televisão, mas acho que ignora a internet. Existem pessoas cada vez mais próximas da nossa privacidade nos dizendo o que queremos e vendendo justamente nossa maior necessidade.
Essa coisa de Internet é engraçada, ela é muito usada para nos aproximar das pessoas que julgamos ser aquelas que queremos perto e afastar as que estão perto deveras e ignoramos por nosso ideal. Outra coisa que anda supervalorizada: Nosso julgamento. Cada dia alguém se convence mais de que sua visão de mundo ou capacidade de julgamento é boa e correta. Não vejo mais pessoas cientes da própria ignorância. Todo dia morre um humilde. Como dirias tu: Que melancolia!
Bem, nessa história de aproximar quem está longe e afastar quem está perto com a internet tem gente sentindo tudo à distância. Palavras sinceras distantes, abraços sem braços, beijos sem bocas, expressões sem rosto, recados sem carteiro; mais - declarações sem olhar nos olhos e o pior - amor à distância do ser amado, por escolha! A fortuna nos desencontra tanto, e nós cada vez nos desencontrando por vontade própria. Creio até que a fortuna tem encontrado mais as pessoas com esperanças de que mudemos com seu exemplo.
E assim se tem vivido esse tempo de paz, como o sr. me disse numa música certa vez. Todos os nossos sentimentos estão protegidos pelas letras frias e a distância da tela. Os sentimentos andam fraco meu poeta. Estamos cada vez mais lógicos - Explicamos claramente nossas intenções, pomos termos e expomos claramente as condições de nosso amor antes e deixamos a mulher amada tranquilamente deliberar e ou modificar os termos supracitados. Enfim, reduzimos nossos sentimentos ao lógico, nosso amor ao compreensível, ao que cabe nas palavras que sabemos dizer, às negociações que podemos mentalizar. Reduzimos, em prol de nossa proteção, diminuimos para não sofrer nossa imensa capacidade de sentir. A única responsável pela nossa condição, a benção que Deus deu, arrependido por amaldiçoar-nos com a vida. Barganhamos nossos sentimentos, há sempre condições, há sempre termos, há sempre razões e motivos para sentir. Já fui tomado por porra loca incontáveis vezes no meu livre exercício de sentir livremente, sem maiores necessidades, deixando todas as consequências advirem dum sentimento. Simples, puro, ele mesmo.
E da tua lenda e das tuas músicas e de teus poemas eu criei minha fonte e norteei minha vida, moribundo duma figa. De agora em diante me comprometo a evocar teu santo todos os dias, depois de acordar e antes de dormir. Para que ele me acompanhe, me dê forças e permita mais uma vez, sem medo algum da cópia de estilo e intenção, chamar à minha boca as palavras de tua canção. Mais uma vez é preciso uma lição de amor, uma lição tão grande, um amor tão desesperado que toque o mundo, que toque toda e qualquer alma com medo de sofrer, pois prefiro morrer a viver neste mundo de medo. Meu peito bate apertado, e dói numa vontade seca de chorar sem lágrimas, meu poeta, quando penso nessa liberdade ao léo e tantos sem dar por ela. Tão sozinha!
Do momento presente para cada instante viverei de amor, unica e exclusivamente. E já dói, a simples perspectiva da empreitada é assustadora, desvairada. Mas ainda assim necessária. Ei de ser como tu, como ghandi, como Jesus, ei de amar, sofrer para amar, morrer para amar. Terei a fé, a fé maior que encaixa a tua vida na do próximo e o amor em tudo.
Com o coração espremido e as lágrimas roucas me despeço poeta, com tua benção, benção para chorar, benção para viver. Me despeço nestas palavras, pois minhas letras são uma forma minha de chorar. E que o amor preencha a minha vida e transborda pois que importa não é minha vida, mas a vida de minha irmandade e de minha prole, a vida de meus amigos e da gente nobre de peito, nobre por direito divino de ser pobre.

Amém e saravá meu amigo desconhecido e amado,

Diogo Marcos Testa

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Do amor e da mulher amada

 
I

Ao abraçar a mulher amada,
Seja capaz de suspendê-la do chão
E rodá-la até a tontura
Mas nunca fique tonto
Pois ela espera que você a leve aos ares
Enquanto se mantêm seguro
Para que quando aterrissar
Possa repousar tranquila em seus braços
Bamba das pernas e firme de sentimentos
Se você não souber que a ama
Ela jamais saberá

Se por algum motivo estiverem
Você e tua amada, meio à multidão
Não a deixa confundir-se nem misturar-se
Ergue-a por entre as coxas em seus ombros
E mostra que a mulher amada
É sempre uma entidade destacada
Que merece o pedestal de tuas espáduas
E a passagem da multidão

Portanto pensa bem e recomenda
Cautela quanto à altura de suas saias
Adverte-a, se for o caso
De que pode haver multidão e que a saia
Porá ambos em situação embaraçosa
Dito isso, nada contra um belo
Par de pernas desfilando pela rua

Se acaso estiver com amigos ou família
E ela te chamar
Manda que espere, manda que não durma
E bebe com os amigos, e fala com os parentes
E ama as amantes sem qualquer pressa
Agora quando acabar, pouco importa
Quão cansado, quão sujo ou quão longe
Esteja. Não importa também
Se você não é mais necessário
Vai direto para ela e não a deixa
Até ser perdoado
Toda mulher sabe admirar um homem
Preparado para não abandonar ninguém

Se lhe trouxer flores que sejam roubadas
A beleza da flor não está no enfeite
Nem na delicadeza, nem no perfume
Muito menos no preço
Está no fato de você ter se arriscado
Para ter em sua posse algo que não tem
Qualquer utilidade senão agradá-la
Compre flores apenas nos enterros
Um homem que presenteia uma mulher
Com flores do florista
Põe um preço em seu amor

Morda. Mas nunca com frivolidade
A mordida é por vezes mais importante
Que o beijo. Ao longo da vida
As mulheres esquecem-se dos homens
Que as beijaram. Mas nunca vi uma
Que se esquecesse dos corajosos
Os desesperadamente corajosos
Para, na angustia e abandono mais
Sublimes as morderem loucamente
Por puro desejo, pura necessidade
Sem qualquer razão para tanto

Traia. Muito. À farta, com quantas puder,
Quantas vezes puder e em
Todos os lugares em que puder
Trate a todas como à dona do amor original
Mas deixe que todos saibam
De quem é seu coração
Quanto à amada de verdade
Não conte vantagem, mas também não minta
Se ela perguntar, confunde entre tuas mãos
As dela e pede perdão, perdão apaixonado

Vai meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Enfim do primeiro canto

Esses cinco poemas compõe o primeiro canto dos Conselhos - Do amor e do Vício, pois contemplam 4 de meus 7 vícios favoritos - Beber, fumar, comer e dormir. Ah, se vida se resumisse a isso!
Os próximos três cantos contemplam os três vícios que faltam, que pela maior abrangência obtiveram destaque - A mulher amada, a poesia e o amor. Espero que apreciem o que virá.

Do amor e do Vício

V

Em qualquer lugar dê vazão à teus desejos
Sob qualquer circunstância, se houver vontade
Durma. Não há qualquer vergonha nisso
Dormir é a necessidade mais natural do homem
E mal educado é aquele
Que perturba o sono alheio
Mais, digo até invejoso
O infame

Durma para ocupar o ócio
E durma para fugir ao serviço
Durma porque está cansado
E durma porque não fez nada
Durma porque acabou de amar
E durma para não se ver obrigado a recusar a mulher amada
Durma porque a tarde está quente
Ou porque está chuvosa
Enfim durma

Não seja exigente
Durma no chão, no chuveiro, na mesa
Principalmente se bêbado durma logo
Em um colchonete vagabundo
Uma cama de molas
Um colchão d'água
Ou o concreto da sarjeta
Durma em qualquer lugar
Com o mesmo prazer -
Entre dormir e acordar
O sono é sempre o mesmo

Agora cuidado, esparrama
Mas não meche em demasia
Ou quando acordar estará pior que quando
Foi dormir
Se roncar, ao menos adverte os desprevenidos
Antes
Prefira, claro, os encostos macios aos duros
Mas procure sempre certo equilíbrio
A sensação de acordar e não poder sair da cama
Tão mole
É semelhante a afogar-se

Cuidado com as janelas aonde for dormir
Se aonde dormir janelas houver
Dadas as circunstâncias
Pode acordar bronzeado
Ou encharcado
Reza por um sono pesado
Desses que se cair uma pedra na cabeça
Você não acorde
Antes um galo que um sono interrompido

Prefira não lembrar-se dos sonhos
Contenta-se em saber que os teve
E acordar com a estranha sensação
Que você voltou da realidade
E não para ela
Se lembrar-se dos sonhos
Pode achar que eles querem te dizer algo
E privar-se das próprias escolhas

Se possível, sempre que acordar
Tenha dormido cinco minutos
Tenha dormido dez anos
Sorri e lembra-se de tudo
Que passou para poder descansar
Procura alguma luz
Nem que seja para esconder-se
E pensa "Acordei. De novo"

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Do amor e do Vício

IV

Não coma apenas para saciar a fome
Coma também para saciar a gula
Para saciar o tempo, a ansiedade
E sobretudo o desejo do sabor
E da mistura
Agora, se comer para saciar a fome
Põe-se certo de que tem fome
E sente queimar o vazio dentro de ti
Sofre com ele para depois saciá-lo

Coma somente o que lhe apetece
Não coma ou escolha alimentos
Para ser educado ou por razões sociais
Se não tem fome, convicto diz
Se não deseja determinado alimento
Humilde admite
E ninguém terá o direito de admoestar-te
Por isso

Não sê preconceituoso nem fresco
Para com teus alimentos
Não rejeite tal ou qual
Por ter esse ou aquele gosto ou textura
Os alimentos, muito mais generosos
Que as mulheres, se entregam
Sem qualquer interjeição quanto
A quem veio antes, depois ou conjunto
Compreende que cada um tem seu mistério
E sê prestativo a degustá-lo com cuidado

Se estiver completamente sozinho
Desesperado por quem não te ama
Coma tudo quanto pode, se possível
Alimentos doces, sorvete, chocolate
Não tem medo de engordar
Nem do que dirão
Coma pela mais pura necessidade
De fazer algo
Quando não há mais o que se fazer

Agora se for comer o que foi cozinhado
Pela pessoa amada
Reza para que ela te ame tanto quanto diz
Ou que seja exímia cozinheira
Ou você se sentirá irremediavelmente
Compelido a mentir

Coma o alimento por si
E não pelo que ele te causa
Assim, coma a espinafre pelo amargo,
O liso e o suave viscoso dela
Não pela saúde que promete
Da mesma forma, não teme a feijoada
Seu quente, seu mole, seu caldo grosso
Seu sabor salgado de carne
Apenas pelas horas que com certeza
Gastará depois no banheiro
Não sê medroso assim

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Conselho de hoje, quarta feira, 24/09/08

Esse não é um poema do trabalho, mas "fui acometido por uma vontade de escrever não sei quê" então aqui vai o conselho.

Perca a hora sempre
Principalmente quando não puder
Os compromissos se rearranjam
Mas a sensação - ainda que pueril
De que se pode subjulgar o tempo
Ao teu designo
Vale qualquer atraso

Digo mais, quando encontrar
Teu compromisso
Teu humor e tua disposição
Estarão tais
Que ele se impressionará
Pela tua maravilhosa presença
De espírito
E nem dará pelo atraso
Qualquer um esperaria para ver alguém
Corajoso o suficiente para desafiar o tempo

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Do Amor e do Vício

III

Fume para escapar de qualquer pensamento
Desses que nos invadem sempre fora de hora
E nos incomodam com cimento nos lírios
Fume para não dormir, fume para não pensar
Fume para não precisar saber onde pôr os braços
Ou como abrir a boca, ou como se aproximar
Da moça bonita ali na esquina
Fume para ser mesmo sem saber
Como se é

Se possível tenha grandes períodos de abstinência
Entre um cigarro e outro
A falta da fumaça sempre a torna mais bonita
Claro que a noção de grande período é relativa
A minha é semanas, meses
Se a tua for horas, minutos, segundos
Mal nenhum

Não brinque com o cigarro nos dedos
Não engasgue quando for tragar
Não esparrame a bituca ou queime alguém
Com as cinzas
Trata o cigarro como uma extensão da mão
Sua fumaça como oxigênio
Seus restos como os teus

Não tenha medo de reservar um tempo
Apenas para fumar
E quando esse tempo vier fume muito
Tanto quanto teu bolso e pulmões permitirem
Não compre carteiras com filtro
Não disfarce nem perfume teu cigarro
Ele não merece
Aceita a ardência e o amargo do fumo
Como reflexo da ardência e do amargo
Da alma. Se não pode fazer isso
Não fume

Evita fumar perto de quem não aprecia
Ou em lugares onde não é desejado
A depreciação do cigarro
Tira todo o prazer do fumo
Agora, caso deseje fumar como protesto
Estufa o peito e, olhos nos olhos
Sopra a fumaça na cara do vilão
Sem deixar dúvida que é de propósito
Depois apaga e vai embora
A última baforada é sempre sinal de vitória

Pratica coisas divertidas com o cigarro
Como fazer rosquinhas de fumaça
Ou falar com ele entre os dentes
São tão úteis socialmente
Quanto é possível ser útil uma coisa inútil
E se possível não fume antes nem depois de amar
Mas se não houver jeito, ama com maior
Intensidade que a cinza queima, mostra
Teu fogo maior que qualquer fumaça

sábado, 13 de setembro de 2008

Do amor e do Vício

II

Escolha sóbrio o que vai beber
E tente não mudar a escolha muitas vezes
No decorrer da noite
Para as conversas intermináveis de mesa de bar
Tome cerveja. É barato e não tomba ninguém

Para os jantares românticos escolha um vinho
Repara que o encanto do vinho
Não é o preço nem o gosto
A graça do vinho é o tinto. E todos eles são assim
(de preferência com um queijo e um pão português,
Seja ele qual for)
Para comemorações abra uma espumante
E não tenha receio de banhar quem ama
Numa boa espumante

Não aconselho Vodka, Uísque, Saquê ou similares
A menos que sejam oferecidos
Não se presta confiar em bebidas estrangeiras
Se conseguir não misture. Muito
Não procure no álcool o sabor
Procure no álcool o próprio álcool
E se isso não bastar não tome

Mas quando o coração doer de não ter jeito
Ou a solidão for mais forte que a vontade de viver
Aí não tem remédio, procura qualquer boteco
Se possível um com banheiro
E beba toda cachaça que aguentar
Quando um amigo de muito está sofrendo
Ou quando um grande amor morreu
Vá um boteco, qualquer um mesmo
E só tome aguardente
Até arder, até dormir

Até

Aviso aos navegantes

Conselhos é um trabalho de 18 poemas divididos em quatro cantos. Poemas novos aos sábados, sempre que possível antes das 10:00.

Descobri fazendo as contas hoje que o último poema seria postado dia 03 de janeiro de 2009. Ou seja, o fim do trabalho coincide com o fim do ano! Achei isso tão bom que mudei as datas das duas últimas postagens para os dias 25/12 e 1/1, natal e ano novo - o desarranjo é pequeno e fica mais poético o fim do trabalho coincidir com o começo de um ano.

seguem os conselhos

sábado, 6 de setembro de 2008

Do amor e do Vício

I

Ame, mas nunca com moderação
Estudar e trabalhar, vá lá
Que se faça com certo comedimento
Mas amar nunca
Também aconselho que nunca
Se durma, coma, fume ou beba
Com qualquer contensão
Se estiver disposto a praticar qualquer uma
Dessas atividades, pratique à farta
Sem qualquer controle de teu vício
Ou vício não será

Quanto à escolha dos vícios
Se possível escolha o amor
E se possível que seja só um
(vício, não amor)
Posto esse ser o mais saudável
Mas não sendo possível
Encontre amor em cada vício
Em cada copo, em cada fumo e em cada carne
E encontre alguém com o mesmo vício
Para passar o resto da vida

Male má já é algum amor

Claro que não espero que controle teus vícios
Nem em sua natureza nem em sua quantidade
Espero ao menos que se mantenha firme
Na força e na dedicação ao teu vício
Não deixe nada aos vermes
Não faça a eles este favor
Que seja majestosa a tua podridão

domingo, 31 de agosto de 2008

Sobre os conselhos

Um apanhado da pífia experiência de vida deste que vos fala, registrada da única forma em que poderia escrever com verdade, com entrega, espero que gostem.