domingo, 9 de novembro de 2008

Do amor e da Poesia

II

Prefere escrever teus rascunhos a caneta que a lápis
Os rascunhos tem algo de verdadeiro
Que é preferível fixar na tinta
O mais importante de todo rascunho
É sua honestidade, sua vida pulsante
Seu imenso contato com o presente
É melhor fixar tanto quanto possível
O sentimento presente do rascunho

Com o tempo e as revisões
O rascunho será abominavelmente
Desfigurado pela estética
Semiótica, métrica e outros tantos
Nomes complicados
Assim como a semente que jamais lembra o fruto
Entretanto procura manter no resultado
A imensa força vital contida na semente
Ou ao olhar teus poemas
Verá velhos aduncos e rabugentos

Se quiser, sempre lamenta
Quando terminar uma revisão
E compara o poema
Nascido com o crescido
Repara, triste e austero
O quanto é preciso matá-lo
Antes de espalhar seus versos
Ao vento

Quando pegar um poema antigo para lê-lo
E souber que ele necessita de revisão
Mas sentir-se incapaz de esfaquear mais
O rosto que outrora era tão belo
Ou remodelar novamente seu corpo
Que anda tão duro
E era tão flexível
Entrega a um amigo ou a um editor
Que teu poema está pronto

E pronto nada mais é
Que estar morto

Um comentário:

Alexandre Spinelli Ferreira disse...

"e pronto nada mais é que estar morto..."
Caramba... perfeito...